eruditas

Em 1992, a convite da Profa. Maria Lúcia Santaella, eu coordenei um Laboratório de Linguagens Sonoras na PUC de São Paulo. Uma série de músicos se aproximaram do Laboratório para aprender a mexer nos equipamentos do estúdio. Um dos participantes era Graham Griffiths, que regia o grupo de música contemporânea Novo Horizonte.

No final do curso, combinamos fazer um concerto no teatro Tuca, com composições nossas feitas especialmente. E que iríamos gravar com nosso equipamento, mixar e lançar um CD. Tudo isso foi feito.
Para esse concerto eu compus 8 Clocks, um peça para 8 músicos.

A idéia da composição era experimentar as diferenças entre a versão de computador que eu fiz, com versão ao vivo dos músicos. No computador, o tempo é controlado por um só relógio, o da máquina. Ao vivo, temos oito "relógios" buscando sincronia. Há uma relojoaria de contrapontos, tanto no estilo minimalista, como no estilo dodecafônico. Nesta música, incluí e expandi dois compassos de uma obra de Schoemberg, que eu já havia explorado no trabalho "O Som e o Sentido".

Eu, que me formei em composição erudita pela ECA (Escola de Comunicação e Artes da USP), mas tenho minha "casa" musical na Música Popular, pretendi colocar em campo um pensamento "erudito" de composição, mas sem abrir mão do pulso. Minhas referências eram (e ainda são) Philip Glass e Steve Reich. Mas queria sentir, na prática, até onde eu conseguia chegar em termos de uma linguagem própria, diferente de todos eles.

Fiquei satisfeito com o resultado. A música foi executada em São Paulo e na Alemanha. Minha carreira "erudita" começou e terminou aí, creio eu. Mas guardo na lembrança um dos maiores elogios que recebi em toda minha vida. A pianista Lidia Bazarian, do Grupo Novo Horizonte, lendo a partitura pela primeira vez (e como lia!), exclamou: "Enfim, uma música!".