1993.Célia Gouvêa criou a coreografia e dançou Pedra no Caminho. Me entregou um vídeo sem som. Me disse que espetáculo era baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade. Para ela, a pedra tinha o sentido de algo que impede o caminho, que impede o prosseguir.
Pensei a trilha a partir disso: idéias que surgem, mas, por alguma razão, não prosseguem. Utilizei uma gravação do próprio poeta falando seus versos, sons de pedras, sons de dados sendo lançados...
Foi um trabalho importante para mim. Toquei todos os instrumentos. A dança da Célia induzia a música a conversar com o silêncio, com o tempo que permanece... Os espetáculos de Célia eram como sonhos. E eu me divertia fazendo trilha para sonhos.
O mais curioso era assistir a Célia dançar depois que a trilha ficava pronta. Imagine, meses dançando um coregrafia em silêncio, e um dia, chega a trilha... Célia ia se adptando ao som, absorvendo suas marcas e suas durações... mudando gestos de lugar, ouvindo com seu corpo em movimento. Até que um dia, de fato, dançava com a música.
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